27/05/23 – Reunião Cultural: Sonhar… Em tempos sombrios.

“Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar.” (Van Gogh, Cartas a Théo)

Sonhos: tema caro aos psicanalistas, mesmo porque protótipo das formações do inconsciente.

A escuta dos sonhos na clínica ainda faz parte de nosso instrumental? Ou guarda algo de nostálgico? Até que ponto podemos ser fiéis ao Freud  da Interpretação dos Sonhos? Ou ir além da Deutung  (Interpretação) e tomar em conta a ideia de trabalho do sonho, trabalho da análise, trabalho da escuta, que potencializa a pluralidade de espaços psíquicos, que permite estar no “entre”, na fronteira, entre o sono e a vigília, entre as certezas e as oscilações, entre o terror diante da angústia e certa possibilidade de elaboração?

Tempos sombrios: temos dito invariavelmente essa expressão,  para caraterizar o mundo atual, que propõe desafios, angústia, hiperconectividade, esvaziamento dos afetos, falta de um outro próximo com quem possamos dialogar, escutar e sermos escutados.

Retomar a potência do sonho, do espaço onírico, da “outra cena”, que coloca em pauta que somos seres de fronteira, do “entre”, da diversidade de espaços psíquicos, parte  deles colonizados por imperativos categóricos que dificultam o sonhar e o deslocamento da dura realidade que nos circunda, em busca da forma própria e singular disponível para todos  nós, mas cujo acesso conta muito com o trabalho psíquico, forjado no eu, no outro, no mundo, na cultura.

Acompanhados de Freud, de nossa clinica, de nossos sonhos, dos sonhos dos Yanomami, que os escutam em outra chave, e nos mostram o risco da alienação da vida psíquica e  coletiva: o sonho como remédio para acordar para um mundo mais justo.

Dora Tognolli

Abril/ 2023